Rafael Pereira | Série Empreendedores Que Inspiram
- Stark Bank
- Jan 22, 2021
- 6 min read
Confira o bate-papo exclusivo com o CEO e CO-Founder da Rebel
Formado em Engenharia Elétrica e de Produção pela PUC do Rio de Janeiro, Rafael Pereira possui grande experiência no mercado financeiro e de tecnologia. Pensando em revolucionar o sistema financeiro do país, ele decidiu co-fundar a Rebel, uma fintech de crédito.
Rafael bateu um papo com as apresentadoras Paola Dionizio e Letícia Santiago durante a série Stark Bank Entrevista: Empreendedores Que Inspiram, para compartilhar suas histórias, desafios, oportunidades e, principalmente, o que significa ter uma mente empreendedora. Confira a seguir!
Leticia Santiago - Como surgiu a ideia de criar a Rebel?
Rafael Pereira - Tenho como princípio que guia a minha carreira empreendedora tentar resolver problemas existentes. Vejo que muita gente começa uma carreira empreendedora tentando criar um problema novo. Em geral, o que tenho feito a minha carreira inteira é olhar para problemas razoavelmente grandes, tentando encontrar soluções para eles empreendendo em cima disso. No Brasil, a gente tem esse problema histórico de juros, na década de 80/90 existia um problema de hiperinflação que foi resolvido com a chegada do Plano Real, mas a sociedade brasileira convive com a maior taxa de juros real do mundo. Então, as pessoas pagam mais juros para o sistema financeiro do que em qualquer outro lugar do mundo. Isso não tinha mais razão de acontecer no mundo atual, então olhamos essa oportunidade e fundamos a Rebel.
Paola Dionizio - Na sua visão, o que significa ter um propósito profissional?
Para mim, no fim das contas, a vida profissional e a pessoal se misturam muito. Inclusive, o empreendedor que dá certo é aquele que consegue ter um propósito que não é somente ganhar dinheiro. No fim das contas, ganhar dinheiro é consequência de um outro propósito. A gente precisa olhar um problema que já existe e resolvê-lo e como consequência você monetiza isso. Mas quando a gente olha essa questão de ter um propósito final, na minha visão é que temos um problema enorme com a sociedade pagando muito mais do que deveria pelo acesso ao crédito. Queremos resolver esse problema e deixar um legado de um Brasil com o potencial financeiro mais justo, mais inclusivo, com pessoas usando o crédito muito mais como ferramenta do que como dívida.
Leticia Santiago - Como a Rebel está lidando com a pandemia de Covid-19?
Todo mundo que tem uma carreira empreendedora, ainda mais no Brasil, vai passar por uma ou outra crise, por um ou outro desafio, tudo bem que a COVID-19 é algo completamente inesperado, que tem uma consequência econômica muito grande causada por um problema de saúde. No nosso caso especificamente, como trabalhamos no setor financeiro de crédito, tem uma consequência muito importante com duas vertentes fortes, uma é que o crédito está atrelado a renda, então quando você olha a capacidade das pessoas, das pequenas empresas e das médias empresas, de gerarem renda e receita, isso foi bastante impactado. Muita gente perdeu emprego, salários reduzidos, e a questão é: como você lida com essa destruição de riquezas? Por outro lado, você tem por consequência pessoas tentando encontrar formas de amortizar essa perda de receita e renda.
Esse choque está sendo muito mais longo do que o esperado. De um lado você tem as pessoas tentando tapar seus buracos no seu fluxo de caixa e do outro a destruição de renda e riqueza que em teoria deixa o crédito mais restrito. O que estamos tentando trabalhar é como olhamos isso sob um aspecto social e não apenas aspecto econômico puro, e também como trabalhar isso com o governo, reguladores, etc.
Paola Dionizio - Olhando para sua jornada empreendedora e especificamente para a pandemia, quais foram as lições mais valiosas que você aprendeu?
A primeira lição da pandemia é que quando você acha que já viu de tudo, você descobre que não viu tudo ainda, e isso traz uma grande lição para a carreira empreendedora. Aprendi que o empreendedorismo nunca é o fim, ele é sempre o meio, é uma jornada. Muitas vezes as pessoas acham que para ser empreendedor precisam começar um negócio e hoje em dia vemos que existem vários tipos de empreendedorismo. Existem pessoas que têm perfil empreendedor dentro de uma empresa, por exemplo. Começar uma área nova, um projeto novo, isso também é empreender. Acho que a principal coisa que aprendi é como trabalhar esse perfil empreendedor e também entender que quando você acha que já sabe lidar com tudo, vem uma crise como essa do COVID e efetivamente cria uma situação totalmente nova e inusitada. E quando olhamos essa questão de ser empreendedor, vem o que chamamos de resiliência, que é você entender que esses choques acontecem, o mundo nunca acaba, as crises sempre passam sendo elas menores ou maiores, mas mesmo com todas essas pedras no caminho, você pode desviar. A jornada importa muito mais do que o objetivo, acho que esse é o grande ponto.
Leticia Santiago - O que você só foi aprender sobre empreendedorismo colocando em prática?
Acho que tem algumas coisas que você nunca estará de fato preparado para elas. Em geral, você tem uma experiência profissional e depois embarca no empreendedorismo por opção ou por necessidade, mas as pessoas não têm essa visão, acham que o empreendedorismo são só os casos de sucesso, é sempre aquele empreendedor da capa do livro e que tem aquela história toda feliz em que tudo aconteceu da melhor forma possível. A lição que aprendi é que isso é como um icebergue, a gente só vê aquela parte que está em cima da água, você não vê que 90% daquela jornada toda está debaixo d’água. Empreendedorismo é uma jornada de altos e baixos, você passa por muitos momentos, fases baixas e depois você tem momentos de altas, quase todas as histórias são assim. As histórias de sucesso e que vão para a capa do livro, muitas vezes, são de quem conseguiu gerenciar esse turbilhão de coisas que acontecem em um período longo de tempo. As pessoas acham que vão empreender e que em meses ou um ano estarão mais confortáveis e com seus objetivos alcançados, mas esquecem que tem uma jornada longa pela frente.
Paola Dionizio - Pensando no longo prazo, o que você espera da Rebel daqui a 10 anos?
Quando a gente enxerga o nosso propósito aqui, queremos ter um Brasil onde a nossa sociedade consiga pagar taxas de juros condizentes com a realidade de um país como o nosso. Enxergamos um mercado onde as pessoas não têm efetivamente esses problemas resolvidos e queremos ser parte dessa solução. Gostaria muito que a Rebel fosse uma empresa que viabilizasse aos nossos clientes conquistar seus objetivos, realizarem seus sonhos, mas que também fosse o mais transparente possível, o mais imperceptível possível na visão do nosso cliente.
Paola Dionizio- Você acredita que ainda tem algo a ser mudado no próprio mercado de crédito, no mercado financeiro como um todo?
Acho que tem muita coisa, é um mercado que está se transformando rápido, que ficou fechado e sendo exclusivo por muito tempo. No Brasil, entre 30 e 40 milhões de pessoas não têm sequer uma conta bancária, por isso vimos todo processo do governo com os auxílios emergenciais para criar contas. A quantidade de pessoas que vivem à margem da formalidade dentro de um país do tamanho do Brasil é muito grande, o reflexo disso é um sistema muito caro para transacionar. Comparado com outros países do mundo, alguns lugares como a África, onde as pessoas não têm acesso ao sistema financeiro por uma questão de acesso tecnológico e infraestrutura, no Brasil as pessoas têm esse acesso, você tem praticamente mais smartphones do que CPFs, então temos um problema de custo. Hoje, o brasileiro escolhe ficar à margem do sistema porque ele não quer pagar R$10,00 reais em uma TED, não quer pagar R$80,00 reais por mês para ter uma conta corrente, não quer ter que passar por porta giratória com segurança armado para tirar o dinheiro guardado. Temos um problema de custo e de experiência, porque é muito caro e muito ruim. Na minha visão, o sistema vai se transformar de uma forma muito mais descentralizada do que ele existe hoje, atualmente é um sistema muito concentrado com poucas e grandes instituições, que são gigantescas e oferecem de tudo, mas tem produtos que não são bons para todo mundo, são desenhados pela média e não funcionam para praticamente ninguém.
Leticia Santiago - Para você, o que é ter uma mente empreendedora ?
Na minha visão, o empreendedorismo tem muito a ver com proatividade, com aquela pessoa que enxerga um problema, não se conforma com ele e faz de tudo para tentar resolvê-lo. Quando penso em mente empreendedora, penso em pessoas que são inconformadas, inquietas e que tem proatividade e iniciativa de olhar um problema, não saber como resolvê-lo, mas abraçá-lo e querer resolver.
Paola Dionizio - Gostaria de deixar um recado para quem deseja iniciar a jornada empreendedora?
Sou um grande fã do empreendedorismo e o recado que eu deixo para todo mundo é que a jornada é muito mais importante do que o fim. Para quem é mesmo empreendedor, na essência, o fim nunca chega, sempre tem um outro problema para resolver. Acho que o ideal é abraçar essa jornada e entender que existem altos e baixos e saber viver com isso, estar em paz consigo mesmo é o mais importante.
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