Manoela Mitchell | Série Empreendedores Que Inspiram
- Stark Bank

- Nov 11, 2020
- 9 min read
Updated: Jan 19, 2021
Confira o bate-papo exclusivo com o CEO e Co-Fundadora da Pipo Saúde
Formada em Economia pela USP e Especialista em Empreendedorismo pela Universidade de Stanford, Manoela Mitchell encontrou uma oportunidade de transformar a experiência das pessoas com a saúde e decidiu co-fundar a Pipo.
Manoela bateu um papo com as apresentadoras Paola Dionizio e Letícia Santiago durante a série Stark Bank Entrevista: Empreendedores Que Inspiram, para compartilhar suas histórias, desafios, oportunidades e, principalmente, o que significa ter uma mente empreendedora. Confira a seguir!
Letícia Santiago - Como surgiu a ideia de criar a Pipo?
Manoela Mitchell - Eu costumo dizer que a minha jornada empreendedora e dos meus co-fundadores não foi muito epifânica e o que isso significa, não é que a gente estava um dia em uma fila de banco e pensou na ideia de criar um banco digital. Tivemos uma jornada que aconteceu muito mais por meio de pequenas mudanças. Em 2018, fundamos uma empresa chamada Céus, que também era do setor de saúde, só que mais relacionada à pagamentos de contas médicas, mas por alguns motivos ela não deu certo. A partir dessa empresa que deu errado, a gente foi meio que pivotando o caminho até chegar na Pipo em 2019 e agora estamos completando um ano de Pipo. Estamos há um ano ajudando empresas a comprar e gerir benefícios de saúde da melhor maneira.
Paola Dionizio - Você sofreu algum tipo de preconceito por ser mulher, co-fundadora e empreendedora?
Eu particularmente acredito muito no poder da representatividade, então acho que mais mulheres em cargos de liderança e de empreendedorismo, estimulam outras mulheres e cria-se uma dinâmica de círculo virtuoso. Quando eu comecei a empreender, basicamente a Cris Junqueira, do Nubank, era a mulher mais referência na área empreendedora e hoje em dia já vejo outras várias mulheres como CEOs e fundadoras, o que me deixa muito feliz. Sobre preconceito, antes de ter fundado a empresa trabalhei por 8 anos no mercado financeiro e acho que lá é um ambiente onde o preconceito é muito mais latente do que vejo no mundo de tecnologia. Mas, ainda assim, o universo de tecnologia ainda é muito machista, tem pouquíssimas investidoras mulheres, existe muito uma cultura de "ter que ser duro", que é uma cultura de impor essa liderança masculina nas empresas. Acho que estamos mudando, nos conscientizando, é melhor do que já foi, mas ainda não é um meio igualitário.
Letícia Santiago - Pra você, o que é ter propósito profissional?
Às vezes as pessoas falam que precisam ter propósito para trabalhar, mas o que é ter propósito? Você quer salvar o mundo? Acho que nem sempre o seu trabalho pode dar esses propósitos muito bonitos e ambiciosos, às vezes o que vai te proporcionar isso são carreiras públicas, carreiras muito mais altruístas. Acho que muitas vezes as pessoas usam propósito de uma maneira muito aspiracional, mas no final do dia propósito é trabalhar com algo que te dê orgulho. O meu maior propósito na Pipo hoje é montar a empresa, então as pessoas que a gente contrata, as coisas que a gente conquista, me deixam muito feliz, ver os nossos clientes felizes e com o serviço melhor também, o grande propósito que temos hoje é mudar como as coisas são feitas em saúde. Precisamos desmistificar um pouco a ideia de que propósito só são representados por coisas ultra nobres e de mudanças radicais de mundo, propósito se faz de pouquinho a pouquinho.
Paola Dionizio - Como está sendo esse período de Covid-19 para a Pipo?
O Covid foi uma grande montanha russa pra gente, porque em março tínhamos 10 clientes para fechar e nenhum fechou, foi um mês que eu fiquei preocupada sobre o futuro da empresa. Mas depois disso começamos a ver bastante crescimento na na Pipo, fomos é muito privilegiados por sermos uma empresa de saúde no meio de uma crise de saúde, então nenhuma empresa cortou plano de saúde, por exemplo, porque é algo super importante no meio de uma pandemia. Vimos as coisas mais pela ótica de oportunidade do que de ameaça, vamos dizer assim. Surfamos uma onda muito boa, porque houve uma digitalização de saúde exponencial e nós estávamos muito bem posicionados para ajudar os RHs das empresas a digitalizar um pouco da jornada de saúde, então pra gente foi uma grande oportunidade. Desde março crescemos mais de 10 vezes a nossa base de clientes e hoje, temos problemas mais de crescimento e processos do que problemas de escassez de clientes, que é o problema que muitas empresas têm vivido.
Letícia Santiago - Qual foi a lição mais valiosa que você aprendeu durante a sua jornada empreendedora?
Acho que são várias (risos), mas pra resumir, acho que empreendedorismo é uma coisa que você tem que se jogar muito de cabeça, não existe empreendedorismo meio período. Eu tentei por um tempo fazer coisas paralelas na minha vida e se eu tenho uma coisa para dizer às pessoas que querem empreender, é que se elas têm convicção, apenas se joguem. A piscina não está quentinha, ela é bem fria, mas se você nadar eventualmente chegará em um lugar melhor, mas tem que se jogar de corpo e alma, porque a jornada empreendedora é muito demandante e solitária também, você tem que tomar mais decisões difíceis do que fáceis e é você quem banca essas decisões e colhe as consequências. Mas quando você olha pelo retrovisor, também é uma jornada muito gratificante. Por exemplo, completando um ano de Pipo hoje, penso em tudo que conquistamos neste um ano, é incrível, porém em muitos momentos do processo você perde um pouco dessa perspectiva, então é muito bom estar super decidido e obstinado, porque se estiver meio que duvidando, trabalhando e empreendendo, a coisa mais fácil de acontecer é acabar desistindo e a chance de dar certo é bem baixa.
Letícia Santiago - E você sempre quis ser empreendedora?
Eu não tenho aquela história de empreendedorismo de vender sanduíche no colégio e sempre ter uma alma empreendedora. Acredito que sempre fui diferente, mas não entrei no mercado de trabalho querendo empreender. Tem uma história bem emblemática que a minha mãe sempre conta, porque quando eu tinha 4 anos nós estávamos em uma feira do colégio e os alunos precisavam dizer o que queriam ser quando crescessem, a maioria estava falando sobre ser astronauta, bailarina e eu falei que queria ser Presidente do Brasil. Sempre tive um negócio meio diferente, mas não necessariamente voltado ao empreendedorismo, isso foi aflorando com o passar do tempo.
Paola Dionizio - O que te levou a empreender?
O que me estimulou muito foi o momento de mundo que a gente vivia, por exemplo, quando saí da faculdade ninguém via a carreira empreendedora como um lugar bem sucedido, na época a gente escolhia entre mercado financeiro, consultoria, etc. Existiam algumas opções que eram vistas como bem sucedidas e o empreendedorismo não estava lá. Quando comecei a trabalhar com investimentos, investi em empreendedores e a primeira coisa que pensei foi: eu acho as pessoas do outro lado da mesa muito mais interessantes do que eu. Depois, a segunda coisa que me despertou foi o mundo que começamos a viver com várias histórias empreendedoras superlegais.
O que acho muito incrível de empreender no Brasil e na América Latina é que você não precisa montar uma rede social maravilhosa, é necessário deixar as coisas melhores do que elas são. É um tipo de empreendedorismo muito mais tangível, o nível é tão baixo que você só precisa dar uma experiência incrível para as pessoas. E essas coisas começaram a me estimular, porque tem tanta coisa para melhorar e eu sempre fui uma pessoa que olhava para o setor de saúde, durante toda a minha carreira, e até por isso criei uma empresa de saúde, várias coisas foram me levando para a carreira empreendedora e quando eu vi já estava lá (risos).
Paola Dionizio - E o que ninguém nunca te contou sobre empreendedorismo que você só aprendeu na prática?
A importância e a dificuldade de priorizar. Quando você monta uma empresa do zero existe uma lista infinita de tarefas a fazer, tem que fazer de tudo, mas não dá para fazer tudo ao mesmo tempo e o grande desafio e aprendizado que eu tive foi como que você olha pra tudo isso e começa a fazer trade off entre as coisas. Um dos co-fundadores da Pipo sempre diz uma frase: você quer andar 100 centímetros em uma direção ou quer andar 1 centímetro em 100 direções diferentes. Acho que esse é o grande desafio de qualquer empreendedor ou de qualquer profissional que trabalha em uma startup, saber escolher essas batalhas.
Letícia Santiago - De modo geral, o que você acha que ainda precisa mudar na saúde do Brasil?
Tanta coisa (risos), mas acho que definitivamente precisamos ser mais ativo em relação a nossa saúde e o que eu quero dizer com isso, temos sido muito reativos, quando estamos doente vamos ao médico, quando temos um problema levantamos a mão, mas a gente não tem esse olhar de prevenção, de ter os dados de saúde no telefone e acompanhá-los. No mercado de investimentos, por exemplo, todo mundo fica acompanhando os investimentos, os gráficos, na saúde ninguém tem essa obstinação. Precisamos olhar pra nossa saúde com mais cuidado, antes das coisas acontecerem, tanto como empresa, quanto como indivíduo, porque na hora que estoura um problema a chance de você conseguir fazer algo diferente é baixa, essa mudança cultural é o principal desafio que precisa ser mudado no Brasil e no mundo.
Paola Dionizio - Como você imagina a Pipo daqui 10 anos?
Uma empresa tanto a nível B2B quanto a nível B2C, hoje a nossa jornada está muito focada em conseguir ajudar o RH a comprar o plano de saúde mais adequado e gerir os benefícios de saúde que eles têm, sejam exames admissionais, Gympass ou outras coisas de academia, olhamos pra isso pra ter uma visão consolidada sobre a saúde da população e aí tem um touchpoint com o usuário final, que é para ajudá-lo a navegar em tudo isso. Mas quando olho para a Pipo daqui a 10 anos, a parte B2C é tão importante quando a B2B, então se as empresas pagam pelo plano de saúde de seus funcionários, a gente precisa dar para o funcionário na ponta esse dado, esse aplicativo pra ele usar, porque só mudando essa pessoa na ponta a gente consegue mudar a empresa. Se o plano de saúde é caro, muitas vezes é por conta de procedimentos excessivos e existem grandes gastos por doenças que são descobertas sem prevenção, partos de risco pela falta de pré-natal, etc. Só que pra mudar isso é necessário mudar a cultura da pessoa na ponta, então vamos ter que ser uma empresa muito bem balanceada nesses dois mundos.
Paola Dionizio - E como surgiu o nome Pipo?
Na verdade, esse é o terceiro nome da empresa, então eu brinco que naming definitivamente não é um dos meus pontos fortes, mas Pipo é um nome que eu gosto muito e ele vem de “people”. Hoje o nosso maior cliente é o time de pessoas, é o RH, então de tanto a gente falar em "people", percebemos que lembrava Pipo e aí a gente decidiu por Pipo Saúde por causa disso.
Paola Dionizio - Como você imagina a Manoela daqui 10 anos?
Chega uma hora na empresa que a gente tem uma linha que o founder é muito importante e tem uma hora também que uma gestão profissional é essencial. O founder ou o CEO são grandes storytellers, no sentido de que eles precisam convencer as pessoas que trabalham com eles a comprarem seus objetivos. Mas chega uma hora que você levou o seu barco do Brasil até a Europa e aí você precisa manobrar o barco em direções mais curtas e mais precisas, nesse ponto pode ser que o founder não seja a melhor pessoa para navegar essa embarcação. Então imagino que daqui a 10 anos talvez eu não seja mais CEO da empresa, talvez seja uma figura mais estratégica, pensando em inovação, para onde a Pipo vai, etc.
Paola Dionizio - Pra você, o que é crucial nessa transição de founder para gestor?
Acho que o founder é muito importante no sentido de ter uma visão estratégica, inovadora, pensar fora da caixa, acho que esse é o grande papel empreendedor de uma pessoa. O founder deveria ser muito mais entusiasmante pra retenção de talento, do que um CEO de mercado. A paixão que faz você criar um negócio e passar pelos perrengues do começo, é uma paixão muito única dos founders, é um papel muito importante, acho que chega um momento na empresa que você precisa fazer um papel de gestão fina, não é mais levar de 0 a 1, é levar de 1 a 1.1. Entretanto, essas coisas incrementais são muito mais difíceis, essas pequenas mudanças precisam de muito mais trilha de execução e talvez não seja habilidade de um founder, porque ele geralmente vem com menos bagagem operacional, menos história de gestão e liderança, então às vezes esses mundos precisam se complementar em algum momento. São papéis e estilos diferentes que precisam coexistir, porque se vira algo muito corporativo logo no início, perde-se aquela magia da startup que é o que leva as pessoas a tomarem o impulso de pular no abismo, porque uma startup é pular no abismo.
Letícia Santiago - Pra você, o que significa ter uma mente empreendedora?
Essa é uma pergunta quase filosófica, porque ter uma mente empreendedora é principalmente essa coisa de se jogar no abismo. Quando você pensa numa mente engenheira existe um caminho a ser traçado, já o empreendedor não vê muito essas conexões, elas se fazem depois que as histórias são contadas, você vê uma oportunidade e se joga, só depois vai lá e traça a linha de algum jeito. Também acho que é essa coisa de ver oportunidade em tudo, tem uma frase que costumo dizer: se fosse fácil já teria sido feito. Empreender é difícil, os setores que a gente quer revolucionar são extremamente complicados, você precisa enxergar oportunidade e ter muito drive para seguir em frente, então acho que isso é ter uma mente empreendedora.
Paola Dionizio - Alguma dica ou recado para quem está começando no empreendedorismo?
Não desistam, é um caminho muito gratificante e no que eu puder ajudar contem comigo, principalmente mulheres empreendedoras, eu acredito muito no poder da representatividade, me coloco super à disposição pra bater papo e tentar ajudar nesse começo de jornada.



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